– How do you spell love?
– You don't spell it, you feel it.
Um amigo dele, que todos une e ninguém o conhece surge na conversa. Pois que ele tinha este amigo, fruto das visão e alma, para a troca. Nascido na terra da complementaridade, traduzia o amor numa amálgama de borrões cuja visão recortamos meticulosamente até serem frases perfeitas todas as palavras assumidas pelos sentidos.
O coração deste meu amigo rasava-me a memória infantil como aquele grupo de cromos perfilados na gaveta dos repetentes: reservamo-nos o mais brilhante e simétrico e exploramos as cópias restantes até ao mais ínfimo e vergonhoso fio de cola: em números suados, letras beijadas e desejo corrompido.
Cromos e borrões formatados. Retorcida na minha visão, lembro-me de ter recordado um amontoado de autocolantes desordenados mas singulares, nunca afixados senão na gaveta da memória. Nos arredores desta familiaridade acondicionaria eu tão premente proposta.
O pior dos coleccionadores é aquele que se entrega no último cromo, abstraíndo que o amor acontece por inteiro e sem mata-borrão. E de igual modo a vida, que não se faz sentir plenamente na visão mais perfeita mas no coração mais receptivo. Em cada momento e nos suplementos. Por si.
Duzentos autocolantes manuseados com a prazerosa incerteza de possuir uma colecção completa. Tão promissora como a infância, a suculência do amor registado sem tradução nem caderneta – dizia uma amiga minha, que nos une na leitura. Mas isso é outra conversa.
9 comentários:
Conheço alguém que não acredita no amor com uma pessoa que fale outra língua, porque ao dizer o amor, as palavras não têm o mesmo peso para um e para outro. Ora a resposta é mesmo essa: o amor não se diz, sente-se!
O Amor soletra-se? Eu acho que o amor é disléxico porque nos obriga a dizer coisas que não queremos...
Beijocas ó simpática.
:)))
O amor é universal, logo não precisa de uma linguagem.
Ainda hoje tinha pensado nisso: que mais importante que os pensamentos (e as palavras) são as sensações. Aí éque está tudo! Mas não saberia nunca dizer tão bem dito como tu :-)
I, precisamente! :)
Lynce, no amor toda a loucura é confessável. Se é dito por obrigação, amor não será... :)
S*, puro sentimento. Nem mais.
Sofia, a sensação supera o seu próprio pensamento - o restante é pura forma de expressão. Vive e sente! Isso sim, é o mais importante. :)
Blogadinha,
Todas as minhas cadernetas estão cheias de cromos, mas a todas elas me faltam os dificeis, e tenho um monte de repetidos...
Bjo.
Art, tenho uma, mas deixa que acrescente: tal como o maior número não substitui a importância do cromo em falta, também o último cromo nem sempre se revela o nosso preferido...! Bjo [:)]
adoro! adoro esta alegoria tão, tão grande!
magnífico!
eco
Eco, corada fico. Obrigado!
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