Coffee Break

Os homens deste mundo são como
os grãos de café na máquina de moer:
Um antes, um depois, outro em seguida,
todos acabm por ir para o mesmo destino.

Giuseppe Belli, in Sonetti, Er Caffettiere Fisolofo

Bebericava do travo a canela vaporado pelo cafezinho quando, toldado pelo suave e quente aroma, o olhar do homem da sua vida lhe tomaria de assalto a apraxia matinal, pela primeira vez. Figura espadaúda, aprumado nos gestos e no porte, deslizava este pelo soalho com o atrevimento de semente amarga para brando desejo.

Em trago vacilante, beleza trajada de elegante informalidade que a confidência feminina permite à imaginação do seu semelhante, seleccionado em rigor de formusura aberrante ou puro lesbianismo. Sorvidas as hostes, palato agridoce que lhe adensa na alma saudação fortuita para destino acidental.

Sob a espuma da manhã, degustação que a demência não reclama nem subscreve. Grão ante grão, displicência que embate na investida. Sem compaixão pelo cafezinho derramado, educação que não descura a sua culpa, vergando-se a seus pés num desconcertante registo: – Gamaliel Silva, o doutor vai atendê-lo agora.

No reordenar dos cacos, tritura o romantismo e afoga a canela. Deleitada na sina traçada, abandona o consultório com olhar desvanecido no tempo e na cafeína. O céu apresenta-se colorido e alternativo como a convicção: 'da-se, ninguém merece um Gamaliel na sua vida...!