10/10/2010

Sal e fogo



"Porque o fogo que me queima é o mesmo que me ilumina."
Étienne La Boétie


Atiça as brasas, menina. De ginja a tua mão medrada do espírito. Oitenta os machados que te golpeiam vida e que ardes na fogueira com destreza e de nariz torcido. No crepitar do coração, odor do teu corpo quente agasalhado no meu. Sinto-o em mim e sei-me aconchego na invernia da noite que não finda nem envelhece. Atiça as brasas, menina. Atiça-as e não lhes descures segredo. Frutado o olhar aninhado no espírito. Cinquenta, os troncos nos quais roço queda e corpo e na razão me levanto e volto a amar-te. Na lenha que nos entrelaça odores, promessa outonal surripiada e por nós gravada. Aconchegamos estações nossas. Somo-nos. Brasas. Atiça-as, menina! Florida a carqueja que te incendeia o corpo e te consome espírito. Vinte, as mãos e os corações que te jorram seu desejo e imperfeição matemática. Na madrugada beijada pelo sol, atiçamo-nos – fagulhas perpetuadas pelo cheiro da vida. Aconchega-se o Verão. Sei-me tua. Mulher. Atiça as brasas... De ginjeira o saber que te guarda nascença. Oito, o nariz num feito. Na fogueira menina, chamiços segredam espírito de Primavera renascida. Atiço as brasas. Como na vez primeira. Da chama vive o amor.

9 comentários:

CarMG disse...

Como gosto da maneira como brincas com as palavras!
Como é de brasa e fogo o Amor. Como arde. Como precisa de ser atiçado... Como se é em conjunto. Somo-nos é intenso. Demais! Deveria ser sempre como na primeira vez...

Anónimo disse...

Foi um momento parado no tempo essa leitura.
Que lindo esse pontuar da menina com a mulher...
E atiçar as brasas, nunca deixá-las morrer, enquanto o tempo passa, queiramos ou não.
Parabéns por seus sentimentos.

I disse...

Menina-Mulher, na passagem das estações, no dia, na noite e na madrugada...eu gosto de acreditar que é sempre a primeira vez. Deixa arder!

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


TE SIGO TU BLOG




CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...


AFECTUOSAMENTE
BLOGADINHA

ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

José
Ramón...

Antonio José Rodrigues disse...

As brasas, Blogadinha, às vezes aquecem o nosso espírito, mas às vezes queimam indelevelmente a nossa alma. O intrigante é que temos de continuar alimentando-as, pois pertencem ao nosso cotidiano viver. Beijos rubros

DE-PROPOSITO disse...

Florida a carqueja que te incendeia o corpo
---------
CARQUEJA QUE IRRADIA PERFUME.
--------
Felicidades

mas disse...

Que bonito texto . Gostei da maneira como conjuga as palavras ! :)

Blogadinha disse...

CarMG
Palavras soltas, ideias trocadas.
Ponho lenha nesse sentido de dever.

Walkyria
Ou vários tempos num só momento.
Assim também pode ser interpretado.
Obrigado!

I
Todos os dias são um dia.
Lenha na fogueira: pronto!

António J. Rodrigues
A alma é fogueira maior - cabe a cada um de nós a gestão do seu alimento. Beijo

Blogadinha disse...

José Ramón
Obrigado pela poesia, pelos cravos e seguimento do blogue: bem-vindo!

De-propósito
Cheirosa alternativa: registei.
Bem-vindo ao blogue!

Catarina
É a interpretação mais sensata. :)
Bem-vinda e obrigado pelo seguimento!