"(...) Esquece-me de súbito como é o espaço e o tempo.
Em vez de horizontal é vertical."
Fernando Pessoa, in Andei léguas de sombra.
Vem sem destino pelo romper da aurora. No semblante o despertar descurado, nos lábios tons melodiosos de cantigas de embalar. Ensaia um breve trecho no caminho, ao sabor de uma maré ainda meio adormecida. Não sabe de onde vem nem tão pouco para onde vai – é alma partilhada por todos, refugiado num corpo de ninguém. Tem o céu como morada e as estrelas por companhia. Na sua presença gravita-se em pensamento, rodopia sobre si e assobia-lhes convites à dança. São oficialmente promovidas a guardiãs do seu bel-prazer.
Vem sem destino e demora no caminho. Atira o seu mundo à sorte e pactua com o sol réstia de sombra onde ancorar a aurora e beber da sua resplandecência. Um gole fresco e multicolor em reflexos plenos de amor. Vem sem... pretensões nem falsas tempestades. Se chuva cai no rosto, afaga-a de mansinho à socapa da madrugada. Lágrimas intemporais portadoras da prece mais desejada. E de novo desperta! Pelo romper da aurora. Comporta no odor a maresia e no hálito o sonho da saudade. Cantar não se lhe pediria, fosse o errante uma brisa de verdade.
14 comentários:
Blogadinha,
É bom quando sentimos que alguém vem, e se entrega a nós por completo, sem medos nem defesas.
Bjs.
Brisa, é tipo um suspiro do céu! Gostei muito deste texto (e de outros que fui lendo). Vou voltando :-)
Deixar vir
deixar acontecer
nada esperar
apenas SER
me comoveu o texto junto com Just Breathe
obrigada
Que poético! Parece um sonho...
Art of Love,
Isso e vice-versa.
Beijo
Chloé,
Doce e terna imagem.
Bem-vinda ao blogue!
Walkyria,
Tanto em nada dizer... Assim o meu agradecimento pelas tuas palavras.
I,
No início era uma experiência poética! Depois acordei. :)
Hoje não estou para grandes comentários, dói-me a cabeça, estou enjoado e tenho securas. A noite foi muito longa e melhor regada. Mas gostei do teu texto, sobretudo das magnificas palavras, "beber" e "gole".
Mas, já que aqui entrei, mal parecia não deixar umas palavrinhas, até porque sei, que se não o fizesse, irias ficar muito zangada e, provavelmente, jamais me perdoarias para o resto da tua vida.
Agora que já terminei vou tomar mais um Grosan e prometer que não volto a entrar em mais festas privadas. Aliás, se eu mandasse nisto - e já estive mais longe - acabava com essas ditas "festas", especialmente aquelas em que os desiquilibrios de forças são evidentes.
Só mais uma coisinha. Eu não sei (porque já não me lembro) se este comentário entra directamente ou se é moderado, se for moderado, podes apaga-lo, o que eu queria mesmo é que soubesses que eu estive aqui.
:))))
Puxa vida! Eu nunca tinha visto imagens tão bonitas reunidas num só blog...
Bem, a alma ou, para alguns, o espírito é a verdadeira essência da nossa existência, a bateria de nossa carne cuja suas janelas humanas denominadas também de “olhos” não conseguem ver algo dito palpável, quantificando-se assim algo não-material mas que mesmo assim, tal qual o próprio vento, pode ser sentido por aqueles conectados com a própria natureza e de bem com as coisas da vida.
Lynce, valha-te a confissão festiva! Por momentos pensei que estivesses grávido... [Lol] Neste blogue não há lugar para lápis azul - liberdade de expressão, sempre! :)
JFSouza, nem sempre a visão determina o sentimento. E este não se quantifica, sente-se. Bem-vindo ao blogue!
Siempre me es gratificante recorrer el mundo de los blogs… y encontrar algunos como el tuyo. También tengo la esperanza que alguna vez pueda verte por el mío, que también se escribe en portugués, sería como compartir esta pasión por escribir que une a tantas personas y en tantos lugares...
Sergio
os teus textos... sempre tao leves... transparentes e intocaveis.
ainda assim me tocam.
parabens.
eco
Que bonito!
Serpai,
Compartilha assegurada!
Obrigado pelas palavras.
Bem-vindo ao blogue :)
Eco,
Pesaroso é o fado, não o cantor. Esquece a pauta! O que importa é saber ouvir... Obrigado pela sensibilidade :)
Daisy Louve,
Bem-vinda ao blogue!
Obrigado.
Pode demorar... desde que chegue e traga a recompensa.
S*, e ainda que não traga, acalente-se a esperança. Sempre. :)
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